Eletrificação da Volkswagen: Perspectivas e Desafios no Brasil
Em um cenário em rápida transformação no setor automotivo, a Volkswagen está preparando o terreno para a eletrificação de sua linha de veículos no Brasil. Em uma entrevista ao g1, Ciro Possobom, presidente da montadora, destacou que o custo elevado tem sido um dos principais fatores que tem dificultado essa transição.
Atualmente, o modelo Tera, um dos mais promissores da marca, apresenta um preço médio de R$ 120 mil. Possobom explica que implementar tecnologias eletrificadas nesse veículo poderia resultar em um aumento significativo de preço. Para um híbrido leve, o acréscimo seria em torno de R$ 10 mil. Já a introdução de um híbrido completo poderia elevar o valor em até R$ 40 mil, distanciando o carro do público-alvo. “Um cliente que pode desembolsar R$ 120 mil não é o mesmo que pode pagar R$ 160 mil. Portanto, devemos ser cautelosos ao introduzir novas tecnologias para não excluir o consumidor brasileiro do mercado”, ressaltou o executivo.
Enquanto a Volkswagen ainda não possui modelos híbridos à venda no país, concorrentes como Fiat e Toyota já avançaram nesse segmento. A Toyota, por exemplo, lançou há quatro anos um híbrido flex, disponível na linha do sedã Corolla. Além disso, marcas chinesas têm se instalado de forma agressiva no mercado nacional, levando a participação de veículos importados nos emplacamentos de 2023 a calcular cerca de 20%, ante 13% três anos atrás, conforme dados da Anfavea.
Desafios da Eletrificação e o Futuro
Atualmente, a Volkswagen só disponibiliza dois modelos totalmente elétricos — o ID.4 e o ID.Buzz — ambos apenas através de planos de assinatura. No entanto, a montadora anunciou planos ambiciosos para o futuro próximo. Segundo Possobom, todos os lançamentos programados para 2026 terão pelo menos uma versão eletrificada. "Recentemente, iniciamos um compromisso mais firme em nossa jornada eletrificada, com um empréstimo de R$ 2,3 bilhões obtido no BNDES para acelerar esse processo", afirmou.
A estratégia inclui a introdução de híbridos flex, uma solução que se alinha ao perfil de utilização do consumidor brasileiro, que roda em média de 13 mil a 15 mil km por ano. Possobom defendeu essa abordagem, enfatizando que o público local tende a conservar seus veículos por um período prolongado. "A confiabilidade ao longo dos anos e o valor residual são cruciais. Como estarão essas tecnologias em três a quatro anos?", questionou.
Possobom revelou que, embora a Volkswagen considere a importação de veículos elétricos fabricados na China, a preferência é pela produção local, visando atender às especificidades do mercado brasileiro. “A solução de híbridos parece ser a mais acertada para os consumidores do Brasil”, concluiu.
O Tera: Um Novo Marco
Em meio a esses desafios, o Volkswagen Tera se destaca como uma das grandes apostas da empresa. Após um período de queda nas vendas, a montadora registrou um crescimento de 18% na América Latina, impulsionado pelo sucesso do Tera, que já vendeu 60 mil unidades, unindo o mercado interno e exportações.
Possobom destacou que o modelo, que teve seu lançamento em meados deste ano, conseguiu esgotar três meses de produção em menos de uma hora. O desenvolvimento do Tera envolveu um planejamento cuidadoso, durando cerca de cinco anos. "Temos uma percepção sobre o potencial do veículo que geralmente surge entre três a seis meses antes do lançamento, quando o carro realmente começa a atrair a atenção do público", explicou.
O interesse pela nova SUV teve seu ápice quando foi apresentada em um evento no Rock in Rio, apenas nove meses antes de seu lançamento oficial, seguido por uma exibição no Carnaval do Rio de Janeiro. "A campanha, comunicação e estratégias de marketing foram fundamentais para criar essa expectativa", destacou.
Preferências do Consumidor e o Papel dos SUVs
A mudança nas preferências dos consumidores brasileiros também se reflete nos números. Desde 2020, as vendas de SUVs superaram as de hatches, com os utilitários representando 54% dos emplacamentos, enquanto os hatches ficam com apenas 24,6%. Essa realidade se reflete na própria oferta da Volkswagen no Brasil, que conta com seis SUVs em sua linha e apenas duas opções de hatches.
Apesar da crescente popularidade dos SUVs, Possobom defendeu a importância dos hatches. Embora o Tera tenha superado as vendas do Polo, o presidente da Volkswagen acredita que ainda há espaço para ambos os segmentos no mercado. "O consumidor brasileiro ainda valoriza a experiência de dirigir um hatch", refletiu.
Fatores para o Crescimento do Mercado Automotivo
Olhando para o futuro, Possobom apontou que o mercado automotivo brasileiro deve fechar 2025 com cerca de 2,55 milhões de veículos zero quilômetro emplacados, um crescimento modesto de 3% em comparação ao ano anterior. Originalmente, as expectativas eram ainda mais altas, prevendo um aumento de 5%. Essa revisão nas estimativas, segundo ele, está relacionada a fatores como os altos juros e as regulamentações rígidas.
"Uma taxa de juros menor certamente impactaria positivamente o mercado. Hoje, a Selic está em 15%, mas há previsões de queda para cerca de 12% até o final de 2026", indicou. Além disso, a necessidade de aumentar a produção nacional foi enfatizada por Possobom. “Se pudermos aumentar a capacidade produtiva, poderemos oferecer veículos a preços mais competitivos”, disse.
O executivo também mencionou que a legislação ambiental brasileira é mais restritiva do que em várias partes do mundo, o que ele acredita que acaba encarecendo o custo final dos veículos. O PL 8, por exemplo, implementa novas exigências que limitam emissões e exigem tecnologias de controle ambiental mais rigorosas.
O Salão do Automóvel e as Perspectivas Futuras
Apesar da grande expectativa em torno do retorno do Salão do Automóvel de São Paulo, a Volkswagen decidiu não participar do evento, assim como outras marcas renomadas. Possobom não demonstrou arrependimento. Ele argumentou que a montadora preferiu focar em suas várias campanhas de marketing ao longo do ano, destacando que a Volkswagen poderia reconsiderar sua presença no Salão em 2027, caso o evento coerentemente se fortaleça.
“A força de um salão de automóveis está na presença de todas as marcas. Esperamos que em 2027 possamos ter um evento mais robusto”, disse. Além disso, ele propôs uma nova abordagem para os salões, sugerindo uma interação mais aberta com o público, inspirada em formatos utilizados em eventos na Europa.
Em suma, a Volkswagen está em um momento de transformação e reflexão sobre seu futuro no Brasil. Com um olhar atento às necessidades do consumidor e uma aposta firme na eletrificação, a marca se posiciona para os desafios que a indústria automotiva está prestes a enfrentar nos próximos anos.

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