Início da 1ª Cúpula Popular do Brics: um espaço para a sociedade civil no cenário global
Na manhã de segunda-feira, 1º de dezembro, o Armazém da Utopia, localizado no coração do Rio de Janeiro, se tornou o palco da 1ª Cúpula Popular do Brics. Este evento, inovador em sua essência, visa integrar movimentos sociais ao bloco formado por países emergentes, com a participação de 11 nações que ampliam sua influência econômica e política no cenário mundial. Com um objetivo claro, a cúpula busca articular a inserção da sociedade civil na criação de propostas que fortaleçam a cooperação do Sul Global.
Em um mundo em constante transformação, onde os desafios globais exigem soluções coletivas, a cúpula se propõe a abordar temas fundamentais que revelam a complexidade das relações internacionais. Questões como a cooperação econômica, o multilateralismo, e a construção da multipolaridade estão na ordem do dia. Além disso, os participantes discutirão a reconfiguração da geopolítica mundial, os desafios enfrentados pela governança global e o papel do Brics em um mundo que se afasta da hegemonia do dólar americano nas transações internacionais.
Um Conselho que ganha voz
Enraizado na busca por uma maior inclusão dos cidadãos nas discussões que moldam políticas e diretrizes, o Conselho Civil Popular do Brics foi criado em 2024, durante a Cúpula do Brics realizada em Kazan, Rússia. Este conselho tem como finalidade estabelecer um diálogo contínuo entre representantes da sociedade civil e os governos dos países que integram o bloco. A criação desse espaço não é apenas uma formalidade, mas um marco importante que destaca a crescente relevância da participação da sociedade organizada nas discussões do fórum.
“Este conselho visa dar voz aos movimentos populares, estudantes, professores e ONGs nas pautas estratégicas do agrupamento”, afirma a organização responsável pela cúpula, enfatizando a intenção de tornar as discussões mais representativas e abrangentes.
A Cúpula de 2025 marca também uma transição significativa, sendo o último grande evento a ser realizado sob a presidência do Brasil no Brics, antes de a Índia assumir a liderança no próximo ano. A importância desta cúpula não se limita apenas à discussão de temas econômicos; ela também simboliza um passo em direção a um futuro onde as vozes da sociedade civil não são apenas ouvidas, mas consideradas na formulação de políticas.
A importância do diálogo com a sociedade civil
Dilma Rousseff, ex-presidenta do Brasil e atual presidente do Novo Banco de Desenvolvimento do Brics, enviou um vídeo em que ressalta a importância da cúpula. “Esta primeira cúpula simboliza a participação da sociedade civil organizada na construção da cooperação do Sul Global”, destacou a ex-presidente. Segundo ela, esta é a primeira vez que os povos dos países do Brics têm um canal permanente de diálogo com os governos e as instâncias decisórias do agrupamento. Este canal permanente traz a promessa de um futuro onde as demandas e preocupações da sociedade civil podem, de fato, influenciar as diretrizes do bloco.
João Pedro Stedile, membro da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e do Conselho Civil dos Brics no Brasil, afirma que a cúpula é uma oportunidade de formalizar o funcionamento do conselho civil, com a elaboração de um modus operandi que guiará as atividades durante o novo mandato que se inicia na Índia.
Foco nas demandas sociais
Stedile enfatiza que o envolvimento da sociedade civil é imprescindível para abordar questões cruciais, como a defesa da natureza e a construção de moradia popular, que não podem ser ignoradas pelas lideranças governamentais. “Os governos sabem que, sem a mobilização da sociedade civil, para alguns temas não há como resolver”, destaca. Para ele, é fundamental analisar temas da geopolítica mundial em conjunto com as questões que a sociedade civil pode ajudar a resolver, criando, assim, uma abordagem mais holística e efetiva.
A relevância do Brics no contexto agrícola
Uma das características marcantes dos países que compõem o Brics é sua posição de destaque na produção agrícola global. Juntos, esses países lideram a produção de grãos, carnes, fertilizantes e fibras, respondendo por cerca de 70% da produção agrícola mundial. Essa responsabilidade não apenas reforça a importância econômica do bloco, mas também o posiciona como um ator crucial na construção de sistemas alimentares sustentáveis e equitativos.
Além de serem responsáveis por uma grande parte da produção agrícola, os países membros do Brics também concentram mais da metade da agricultura familiar do planeta, gerando em torno de 80% do valor total da produção de alimentos. Essa realidade coloca um desafio adicional à cúpula e ao Conselho Civil Popular do Brics, que busca integrar as questões alimentares e o acesso à terra nas discussões sobre a governança global e desenvolvimento sustentável.
Os organizadores da cúpula destacam que a voz da sociedade civil é vital não apenas para discutir a economia, mas também para abordar questões sociais e ambientais que afetam as populações locais. O desafio, portanto, é encontrar soluções que respeitem as tradições, os modos de vida e as necessidades das comunidades que vivem no campo e nas cidades.
O futuro da cooperação no Sul Global
À medida que o encontro avança, espera-se que uma série de propostas e resoluções emerjam, refletindo uma visão coletiva construída a partir das contribuições de diversos atores sociais. O fortalecimento da cooperação entre os países mundiais do Sul pode criar uma base sólida para a construção de um futuro mais equitativo e sustentável, trazendo esperança para aqueles que há anos lutam por reconhecimento e espaço nas decisões que os afetam diretamente.
A cúpula, com sua proposta inclusiva, é um passo em direção à democratização das relações internacionais, assegurando que as vozes mais diversas, frequentemente marginalizadas, sejam ouvidas e levadas em consideração nas esferas de poder.
O sucesso deste evento não será apenas medido pela quantidade de propostas que emergem dele, mas também pela capacidade de implementar as mudanças discutidas e de engajar a sociedade civil em um diálogo frutífero e contínuo. Assim, a 1ª Cúpula Popular do Brics não representa apenas um marco para os movimentos sociais, mas também uma oportunidade concreta para moldar um novo modelo de colaboração que prioriza a inclusão, a justiça social e a responsabilidade ambiental.
À medida que o evento avança, os participantes estão focados na construção de um futuro em que os povos que representam possam não apenas ser ouvidos, mas também sentir que suas aspirações e desafios são abordados de maneira proativa e eficaz. A esperança é de que, a partir deste encontro, surjam novas alianças e estratégias que possam transformar o potencial dos países do Brics em ações concretas e positivas para a vida das pessoas.
A 1ª Cúpula Popular do Brics, portanto, não é apenas um evento, mas uma convocação para que todos os envolvidos busquem soluções colaborativas para os desafios globais do século XXI. Assim, é com otimismo e determinação que os representantes da sociedade civil iniciam esse diálogo vital, acreditando que sua participação fará a diferença nas políticas que moldarão o futuro do Sul Global.

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