Centro Administrativo do DF: Desafios e Oportunidades de Um Complexo Abandonado
Após 12 anos de inatividade, o Centro Administrativo do Distrito Federal (Centrad), um símbolo da ineficiência na gestão pública, pode finalmente ganhar vida. O governador Ibaneis Rocha (MDB) anunciou que, para viabilizar a transferência de órgãos e servidores para o complexo, será necessário um investimento de R$ 1 bilhão em infraestrutura ao redor do espaço localizado em Taguatinga.
De acordo com declarações feitas por Rocha à TV Globo, os recursos serão destinados a melhorias viárias, incluindo a construção de um viaduto na saída de Ceilândia e outras adaptações nas pistas adjacentes ao Centrad. A estimativa é que R$ 400 milhões sejam utilizados nas obras de infraestrutura, enquanto os outros R$ 600 milhões são reservados para a obtenção de documentos legais, como o Habite-se.
O plano em andamento também prevê que o governo envie um projeto de lei à Câmara Legislativa em janeiro do próximo ano, após o recesso parlamentar, com a intenção de vender o complexo. Todavia, a pasta de Obras ainda não definiu se as obras necessárias para a ocupação do espaço serão realizadas pelo GDF e incluídas na operação de venda ou se o comprador ficará responsável pelas reformas. Essas informações devem ser detalhadas no edital, que está previsto para ser divulgado no próximo ano.
Um "Elefante Branco" na História do GDF
O Centrad foi idealizado como uma grande sede para os órgãos públicos do DF por meio de uma Parceria Público-Privada (PPP) estabelecida entre o GDF e o consórcio Via Engenharia-Odebrecht, com investimento inicial previsto de R$ 6 bilhões e uma duração de 22 anos. O consórcio seria responsável não apenas pela construção, mas também pela manutenção, segurança e limpeza do prédio, recebendo R$ 17 milhões mensais após a inauguração.
Entretanto, o espaço nunca chegou a funcionar, resultando em um débito de cerca de R$ 1,5 bilhão que as empresas alegam ter investido. As disputas judiciais em torno do projeto levaram a uma proibição de repasses financeiros ao consórcio, decidida em 2020 pela 4ª Vara de Fazenda Pública do DF.
Com a anulação da PPP em 2022, o GDF assumiu a responsabilidade pela segurança do Centrad, que passou a ser alvo de invasões e atos de vandalismo. O abandono do complexo levanta questões sobre a eficiência da administração pública e a necessidade de um planejamento mais eficaz para o uso de recursos no DF.
Linha do Tempo de um Grande Fracasso
A saga do Centrad é marcada por uma sequência de eventos que exemplificam as dificuldades enfrentadas por gestões passadas:
- 2009: Início das obras através de uma PPP entre o GDF e o consórcio Via Engenharia-Odebrecht.
- 2014: O então governador Agnelo Queiroz inaugura o espaço no último dia de seu mandato, com obras inacabadas.
- 2015: O Ministério Público do DF manifesta-se contra a ocupação, negando a emissão da Carta de Habite-se.
- 2015: O governador Rodrigo Rollemberg desiste da mudança do Executivo para o Centrad, citando irregularidades.
- 2017: Em delações da Operação Lava Jato, um ex-executivo da Odebrecht revela que as negociações do Centrad envolviam "acordos de mercado" e repasses ilícitos a campanhas eleitorais.
- 2017: A comissão do GDF é criada para discutir a possibilidade de anular o contrato da PPP.
- 2019: Ibaneis Rocha toma posse e promete que o Centrad será ocupado "de alguma forma".
- 2019: O Ministério Público de Contas pede ao Tribunal de Contas que impeça a transferência de órgãos para o Centrad, alegando falta de vantagem econômica.
- 2020: A Justiça proíbe quaisquer repasses ao consórcio.
- 2022: O contrato da PPP é anulado pelo GDF.
- 2024: Marcelo Galvão, assessor especial do governador, menciona que as obras para ocupação do Centrad começarão em abril.
- 2025: Anúncios sobre o lançamento das obras e edital de concessão são feitos, mas a burocracia parece atrasar o andamento dos processos.
Futuro Ambíguo
À medida que se aproximam novas eleições, o futuro do Centro Administrativo se torna um tema de debate. O que era para ser um ícone de modernização e eficiência revela-se uma herança de erros administrativos, incapazes de transformar a visão original em realidade. O desafio que o governo enfrenta não se limita apenas à necessidade de investimento: resta saber se a população confia que este investimento será gerido de forma eficaz.
As possíveis vendas e parcerias públicas sugerem um caminho, mas as complexas redes de interesses políticos que cercam o Centrad podem dificultar seu pleno aproveitamento. À medida que o processo avança, os olhos do público e de órgãos de controle estarão voltados para cada passo, esperando uma reviravolta positiva em uma história que, até agora, tem sido marcada por frustração e desperdício.
Os próximos meses serão cruciais não apenas para o destino do Centrad, mas também para a credibilidade do governo do Distrito Federal perante seus cidadãos. O que era visto como um "elefante branco" pode ainda virar uma história de sucesso, se houver planejamento e execução adequados.

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