Desafios no Legislativo: Proposta de Taxação do Streaming Gera Polêmica e Divisões no Congresso
À medida que se aproxima o recesso parlamentar, o cenário político brasileiro enfrenta um embate significativo em torno do Projeto de Lei do Streaming, que visa implementar uma taxação sobre plataformas de streaming e grandes empresas de tecnologia. Esse desafio coloca o presidente Lula em uma posição delicada, com vozes de diversas esferas clamando por um posicionamento.
A proposta, que será discutida em votação nesta quarta-feira (17), gera divisões notáveis na classe artística e no meio político. Enquanto muitos artistas apoiam a medida como uma essencial fonte de recursos para o fortalecimento de produções nacionais, setores da direita manifestam preocupações sobre o impacto que essa tributação poderá ter no custo para os consumidores. Nesse contexto, a pressão pela aprovação da taxação se intensifica.
Divergências e Defensores da Taxação
Recentes declarações destacam a necessidade de um consenso em relação aos detalhes da taxação. A proposta do relator, senador Eduardo Gomes (PL-TO), sugere uma alíquota de 3% sobre a receita bruta das plataformas de streaming, enquanto empresas de tecnologia como YouTube e Meta teriam uma carga tributária de 0,8%. No entanto, essa sugestão contrasta frontalmente com o que recomenda o Conselho Superior de Cinema, que defende uma alíquota mínima de 12%. De acordo com os representantes da cultura, essa proposta inicial por Lula é insuficiente diante da magnitude do mercado audiovisual brasileiro.
Artistas como Wagner Moura expressam preocupações sobre a porcentagem proposta. Em suas redes sociais, ele destacou que o Brasil, sendo o segundo maior mercado global para streaming, merece uma taxação mais robusta. Para Moura, o percentual de 4% mencionado por especialistas ainda é baixo e poderia não refletir adequadamente o valor do setor.
Críticas de Especialistas
Aliado a isso, o advogado e CEO do Instituto Liberdade e Justiça, Giuliano Miotto, critica a proposta, considerando-a como um traço de retrocesso regulatório que fere princípios de livre mercado e pode acabar onerando o consumidor final. A discussão sobre o impacto econômico da taxação se intensifica, com Miotto argumentando que, em vez de criar uma nova legislação, seria sensato aprimorar a Lei Rouanet, facilitando isenções fiscais para projetos de interesse geral e sociedade.
O Papel do Fundo Setorial de Audiovisual
Um dos pontos de tensão na discussão sobre a proposta é a inclusão de uma cláusula que permitiria a dedução de até 70% do imposto se as empresas investirem em conteúdo nacional. Enquanto alguns defendem essa abordagem como uma forma de fomentar a indústria audiovisual, Moura critica a lógica de permitir que parte dos tributos arrecadados sejam utilizados pelas plataformas para seus próprios investimentos. O temor é que essa estratégia reduza o incentivo ao desenvolvimento de novas produções nacionais.
Em contraste, o cineasta Ian Maldonado ressalta a importância de manter uma concorrência saudável e a pluralidade no setor audiovisual. Ele defende a descentralização dos recursos gerados pela taxação, argumentando que a distribuição das verbas deve favorecer uma gama mais ampla de projetos, em vez de se concentrar em iniciativas com respaldo político específico.
Regulamentações e Impacto nas Plataformas
Além das questões tributárias, a proposta inclui requisitos para que as plataformas de streaming integrem pelo menos 10% de conteúdo nacional em seus catálogos. Essa medida visa garantir que a produção brasileira tenha destaque, mas famílias como a da Brasil Paralelo alertam que a obrigação poderia engessar as operadoras, forçando-as a destacar conteúdos mesmo em momentos de baixa demanda.
Outro aspecto preocupante é a imposição de um controle maior por parte da Ancine, que poderá criar novas normas sem a necessidade de aprovação no Congresso. Essa possibilidade levanta questões sobre a potencial burocratização do setor, o que poderia afetar a experiência do usuário nas plataformas de streaming.
Rumo a uma Solução
Ante a complexidade e as múltiplas partes interessadas nesse debate, artistas, políticos e especialistas continuam a buscar um caminho que equilibre os interesses da cultura nacional com a viabilidade econômica. A expectativa é que a votação do PL do Streaming sirva como um termômetro para as diretorias culturais e apresentadores de audiência do Brasil, enquanto o país navega por essa nova era de consumo audiovisual.
Em um país onde o audiovisual exerce um papel significativo na formação cultural, a necessidade de um diálogo que considere as diversas opiniões e interesses é mais urgente do que nunca. Enquanto o presidente Lula tenta mediar as tensões políticas sem alienar os parceiros comerciais dos Estados Unidos, a classe artística levanta suas vozes, ressaltando a importância de assegurar um futuro promissor para a cultura brasileira.

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