Ato em Prol da Vida: Movimentos Sociais se Reúnem para Combater a Violência Contra Minorias
No último domingo, 21 de outubro, um expressivo ato público tomou as ruas do Rio de Janeiro, convocado por uma série de movimentos sociais em uma mobilização que clama pelo fim da violência direcionada a mulheres, pessoas LGBTQIA+ e outras minorias vulneráveis. Esse evento se torna ainda mais relevante em um contexto onde assassinatos e agressões cruelmente expõem as fragilidades de nossos tempos.
O Chamado à Ação
O evento teve sua concentração inicialmente programada para as 14h, mas as altas temperaturas do início do verão carioca fizeram com que a manifestação se iniciasse mais tarde. Organizado pela CasaNem, um centro de acolhimento que se dedica a apoiar a população LGBTQIA+ em situação de vulnerabilidade, o ato visou criar um espaço de visibilidade e resiliência para aqueles que frequentemente enfrentam discriminação e violência.
A CasaNem não é apenas um abrigo. Atua como um espaço de empoderamento, oferecendo programas que promovem autonomia e a valorização da cultura de seus moradores, muitos dos quais são transexuais e travestis. Indianarae Siqueira, fundadora da CasaNem, explicou que a organização potencializou o ato em resposta a dois casos impactantes que abalaram a nação este ano, ambos envolvendo jovens trans.
Casos Que Abalaram o País
O primeiro caso que catalisou a mobilização diz respeito a uma adolescente trans de apenas 13 anos, que foi submetida a uma agressão brutal e queimada em Guarapari, Espírito Santo. O estado grave em que se encontra a jovem, internada no Hospital Infantil de Vitória, é uma triste lembrança da brutalidade que a população trans frequentemente enfrenta.
Outro caso emblemático é o de Fernando Vilaça, um jovem de 17 anos de Manaus, sonhador e aspirante a veterinário, que teve sua vida ceifada por razões motivadas pela LGBTfobia. A morte destes jovens, segundo Indianarae, sublinha urgentemente a necessidade de políticas públicas mais efetivas para proteger a juventude LGBTQIA+. Ela argumentou que a educação deve ser a linha de frente dessa luta, enfatizando que a consciência sobre o respeito à diversidade deve ser cultivada desde a infância.
Visibilidade e Educação como Chaves de Transformação
“Não se trata de um aumento real na violência, mas de uma visibilidade ampliada graças a novas leis e ao desenvolvimento de canais de denúncia,” disse Indianarae, ressaltando que a criminalização da LGBTfobia tem incentivado a população a se manifestar. Para ela, se torna essencial encontrar um meio de educar as próximas gerações, transformando a cultura de aceitação e respeito em regra, e não exceção.
Ela ainda destacou que o verdadeiro problema reside nas estruturas opressoras do machismo e do patriarcado, não sendo uma guerra contra indivíduos, mas sim uma luta contra sistemas que perpetuam a discriminação. O caminho para a mudança, argumenta, é a educação inclusiva nas escolas, em casa, e em toda a sociedade.
Vozes da Comunidade
A manifestação atraiu diversas vozes da comunidade, incluindo a de Laisa, uma mulher trans de 30 anos, que defende a igualdade e a liberdade de ser quem se é. Com carinho, ela elogiou o trabalho da CasaNem, que busca unir todos em um movimento de respeito e amor.
A artista MC Raica também marcou presença no ato, utilizando sua música como um meio de gratidão à CasaNem. Raica compartilhou sua trajetória, relatando como a ajuda do centro a levou a um espaço de empoderamento, permitindo-lhe se distanciar da prostituição e realizar seu sonho de se manter artisticamente.
“Estamos mudando nossas realidades. É inegável que há uma luta contínua contra a violência que todos nós enfrentamos, mas estamos aqui por um motivo: reivindicar nossos direitos,” afirmou ela.
Apoio e Empoderamento
Em meio aos discursos e canções, a fundadora do Instituto Trans Maré, Lohana Carla, compartilhou a experiência de oferecer apoio psicológico, jurídico e alimentar a mulheres trans e travestis, especialmente durante os desafios impostos pela pandemia. Ela lamentou a escalada de violência contra essas populações, enfatizando a necessidade de uma conscientização mais ampliada.
O evento também contou com a participação de Eliane Linhares, que representava a Corrente Socialista de Trabalhadoras e Trabalhadores (CST) e o grupo Jocanas Arariê. Em sua fala, ela clamou pela criminalização da misoginia, além de exigir medidas efetivas para proteger as mulheres, incluindo a repressão a feminicidas e estupradores.
Números Alarmantes
Os dados vêm trazer uma realidade alarmante: de janeiro a setembro deste ano, as estatísticas revelam que mais de 2.700 mulheres sofreram tentativas de feminicídio, e 1.075 perderam a vida devido a esse crime. O Brasil continua a ser o país com o maior número de assassinatos de pessoas trans e travestis no mundo há 17 anos consecutivos.
Em 2024, o Grupo Gay da Bahia contabilizou 291 mortes violentas associadas à comunidade LGBTQIA+, o que implica uma morte a cada 30 horas. Em relação especificamente a pessoas trans, o Dossiê da ANTRA relatou 122 assassinatos no último ano, dos quais a maioria eram indivíduos negros e pardos.
A Urgência da Mudança
Os dados do Atlas da Violência 2025 revelam um crescimento alarmante: as agressões contra a população LGBTQIA+ aumentaram 1.227% nos últimos dez anos. No caso das travestis, a ascensão foi de 2.340% em uma década. Com isso, é evidente que a luta por direitos e contra a violência precisa ser intensificada, e a educação é, indiscutivelmente, uma ferramenta central nessa batalha.
Os ecos do ato realizado nos Arcos da Lapa reverberam um chamado à ação não só pela comunidade LGBTQIA+, mas por toda a sociedade, que precisa se unir em prol de um futuro onde a diversidade seja celebrada e a violência, exterminada.

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